quarta-feira, 22 de maio de 2019

Introdução a gramática



Já faz alguns anos; por isso, você provavelmente não se lembra de que, algum tempo depois de iniciada sua vida escolar, um de seus professores do Ensino Fundamental apresentou à “gramática”. A partir daí, todos os seus professores de Língua Portuguesa foram, pouco a pouco, tentando lhe ensinar as “regras gramaticais”.
Esse processo pode ter-se desenvolvido por meio de diferentes métodos de ensino, mas aconteceu com você e com todos que frequentam ou já frequentaram a escola.
É por isso que, se perguntarmos a qualquer pessoa o que é “gramatica”, ela responderá, meio em tom de brincadeira: é uma coleção imensa de regras que eu nunca consegui.”, ou dirá: é um livro que ensina as regras de português.” Se também perguntarmos a uma pessoa quantas regras de gramática ela conhece, as respostas serão mais ou menos assim: “Nenhuma.”, “Umas duas ou três.”, “ No máximo, uma meia dúzia.”
E você? Quantas regras de gramática acha que sabe?
Não se surpreenda, mas, com certeza, você domina mais de mil regras gramaticais. É isso mesmo: mais de mil! Talvez até muito mais... umas 1500!


A gramática da língua
Leia este pequeno texto humorístico.

Especialistas
Um caboclo, vendo uma movimentação de homens e equipamentos perto do sitiozinho onde ele morava, vai até lá e pergunta a um deles:
– Cum licença, moço, o que oceis tá fazeno?
– Aqui vai passar uma rodovia – responde o homem – e nós somos os engenheiros e técnicos. Com esses equipamentos nós vamos definir por onde a estrada vai passar.
– Oia, moço, o senhor vai discurpá, mais aqui no sertão nóis faiz estrada de outro jeito.  Nóis pega uma mula e sorta ela. Onde ela passá... aí é o mió de abri a estrada. Num tem erro!
O engenheiro, achando graça na simplicidade do capiau, diz, sorrindo:
– É mesmo? Não me diga! Mas... e se vocês não tiverem uma mula?
E o caipira:
– Ué... aí nóis quebra o gaio com uns engenhero... (Texto do domínio público)
 .

Agora responda, oralmente: qual dos dois personagens dessa piadinha fala bem português e domina a gramática? Perguntando de outra forma: qual deles você acha que fala “certo” e qual fala “errada”?
Se fizéssemos essas perguntas a diferentes falantes do português , quase todos afirmariam que só o engenheiro sabe o idioma, pois ele fala “corretamente”. Essas pessoas também diriam que o caboclo não conhece gramática, por isso fala “errado” Haveria até opiniões preconceituosas, tais como: “Ele fala de um jeito feio”. Opiniões desse tipo são o resultado de uma confusão que normalmente ocorre entre línguagramática e gramática normativa.
Na realidade, o caboclo da historinha sabe – e muito bem ­– falar português, tanto é que ele conversou com o engenheiro e os dois se entenderam perfeitamente. E que língua ele usou para se comunicar? A língua portuguesa, é claro. Como todo falante de um idioma, ele se expressou empregando uma “forma de falar” que está acostumado a usar em dia a dia.
Mas... e quanto a gramática?
Afinal, o personagem sabe ou não sabe gramática?
Para refletirmos a respeito dessa pergunta, vamos retomar este trecho da fala dele.



É claro que o personagem, usando essas mesmas palavras, poderia ter escolhido outras maneiras de construir a frase. Assim, por exemplo:



Mas, certamente, ele não usaria, as palavras numa ordem como esta:


E por que ele jamais falaria assim?
Ele não ordenaria as palavras dessa maneira porque, desde que nasceu e começou a ouvir e, depois, a falar, ele foi internalizando, isto é, foi aprendendo, na pratica, que sequências como essa não são válidas no português, não respeitam o sistema de funcionamento da língua portuguesa.
          É esse sistema de funcionamento que recebe o nome de gramática da língua, e é pela prática diária, como falantes e ouvintes, que todos nós assimilamos, internalizamos o conjunto das mais de mil (talvez 1500) regras que regulam o funcionamento de nosso idioma.
      Nosso conhecimento prático, como falantes do português, permite-nos, então, estabelecer uma clara diferença entre “Cum licença, moço, o que oceis tá fazeno?” e “*Tá cum, moço, o que o fazeno licença oceis?” Assim: 







Nenhum comentário:

Postar um comentário